ID | 008 |
Título(s) | Fado das Salas |
Fonte | Neves, César das e Pais, Gualdim Cancioneiro de Músicas Populares, vol.1, Typographia Occidental, Porto, 1893, pp.30-31 |
Compositor | João Maria dos Anjos |
Autor | Anónimo |
Data | c. 1868 |
Partitura | 008 |
Midi | Fado das Salas |
Métrica | |
Comentário da Fonte | A música do fado já não é hoje, como foi outrora, considerada musica torpe e obscena, propria só das viellas e dos antros de vício, onde a maruja e soldadesca embriagada, tangiam brutalmente em banzas immundas, acompanhando-a com indecorosos versos e batiam com danças lascivas.
Ha quarenta annos já se faziam fados especiaes, ou para narrar crimes ou algum escandalo amoroso, satyrizar homens celebres ou políticos importantes, ou para rebaixar homens altamente collocados, ou para ridicularizar corporações respeitaveis, ou para descompor qualquer sujeito. Eis um exemplo: o fallecido jornalista e poeta satyrico Urbano Loureiro, comparando um dia no jornal “a Lucta” os versos dum escriptor nosso contemporaneo, aos fados do Marcolino (um pobre musico ambulante, improvisador de fados), este sabendo da comparação, procurou o jornalista num estabelecimento da rua de Santo Antonio, que elle costumava frequentar e deixou-lhe o seguinte recado: – «Diga a esse snr. Urbanes Loureiro que se me torna, na sua gazeta, a comparar a esse outro snr. poeta, eu faço-lhe um fado que o… arrazo.» Publicada na agua lustral da civilisação, a monotona musica dos fados, alegre ou sentimental, ingenua ou luxuriante, já não ofende os castos ouvidos do bello sexo, que a perfuma sob seus dedos sem se roborisar de pudor, porque essas simples melodias não maculam as candidas rosas da sua alma pura. É que a ideia do seu ponto de partida tem sido substituida pela assimilaçao do serio e pelo sentimento artístico que despreza a materialidade da sua primitiva aplicação e a propria poesia sensualista. O grande numero de fados, quasi todos variantes uns dos outros, que se improvisam todos os dias, não são mais que uma espécie de passa-calle, lento, de musica caracteristicamente portugueza: a muitos delles nunca os seus auctores applicaram lettra. |
Comentário Pessoal | O termo passa-calle aqui utilizado pelo autor para descrever o fado refere-se provavelmente à acepção de passacaglia no século XIX: isto é, uma harmonia no baixo e voz grave em ostinato que se repete indefinidamente durante a peça inteira, complementada com uma melodia na voz aguda, mais ou menos livre, em secções regulares de quatro, seis ou oito compassos. |
Comentário Filológico | |
Compasso | 2/4 |
Andamento | Andante |
Tonalidade | Gm |
Número de Compassos | 32 + 2 |
Estrutura | AAAB Coda |
Progressão | || i || V7 || V7 || i || || i || V7 || i-V7 || i || (3x) || i || V7 || V7 || i || || i || ii0 || i-V7 || i || || i || i || |
Interpretações |